terça-feira, 27 de dezembro de 2011

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Obrigado



sábado, 30 de abril de 2011

Mensagem


Mãe,

Esta é talvez a última carta que te escrevo.
Ambas sabemos que no próximo ano, neste dia que estão sempre a alterar
E que tu sempre fizeste questão de assinalar
Talvez tu já não possas estar aqui…
Enfim, quem sabe, eu também não esteja, concedo …
Sabes mãe, há coisas que sendo sempre o mesmo, se estão sempre alterar.
Não é questão do nome que se lhes chame, e nem de circunstância de tempo ou de lugar.
São coisas que são sempre o que são, porém não sendo:
É sempre o mesmo amor, ainda que te não parecendo,
O que te guardo agora, e o que outrora te colocava ao colo, te enrolava ao pescoço
no laço dos meus pequenos braços.
Eu ainda te amo Mãe, ainda que não parecendo ser esse mesmo amor que se fazia terno e doce ao teu colo, é o mesmo amor que foi crescendo!...
Por isso, não sendo exactamente aquele amor, continua sendo …
Hoje quero falar-te de coisas que nunca te falei.
Lembras-te de reclamar tanto do meu horário de entrada no colégio?
E de já crescida , lamentar-me ainda ver-me pequenina, de inverno ou verão
pronta para a carreira que saía às 07:00h , lá da Dom João ?!...
A farda castanha, mochila na mão, e ainda a lancheira com o meu almoço
e para o lanche sempre o mesmo pão...
Recordo que costumava pensar como não te apiedava tal situação ?
Tantos, tantos dias, de contas em vão, em que noite firme, já lá estava pronta
Para seguir. E então, ocorre lembrar-me que tu que ainda te deitavas
tão mais tarde,
E, antes de mim, todos esses dias me ias preparar
Fresca a refeição, cozias-me o pão que iria levar e era tão mais cedo o teu erguer, o teu despertar.
E era tão mais tarde que o meu, o teu descansar …
Depois lembro o tempo que tu reservavas para me pentear.
E como passavas fio sobre fio, o doce atavio de um belo entrançar,
num cabelo longo e rebelde que o pai insistia em não deixar cortar.
Foram tantos anos nesse madrugar , eu nunca te disse, não te agradeci, mas deu para notar...
As noites de febre que velaste por mim, os dias de sol em que a tua voz
criava canções, feitas só para nós,
Mais tarde aceitar que não ao teu jeito, não queria ser médica, ia para direito.
Lembro-me que nesse verão, o sol na pensão do Rossio era clamor...
De ficares comigo, num quarto reduzido temendo o pior.
Que tentando a admissão, o que tinhas à mão, não chegasse então para habilitar-me
ao grau de doutor.
Recordo que andava contigo e a tia Maria pelo Grandela quando uma chamada nos fez saber
da nova e de tu gritares para que se escutasse em todos os andares , tão teatralmente como se fizeras uma novela:
- “Ela entrou, ela ficou, a minha filha vai estudar direito “, embora o curso em si não te tenha satisfeito...
Eras então tu a gloriosa guerreira que criara pão de um pedaço de mau tempo…
Também não te agradeci, mas sempre me recordo
que procuramos um quarto para alugar junto ao Campo de Santana e nos perdemos
uma da outra em Lisboa e à conta disso carregaste sozinha a nossa bagagem
Para a pequena água furtada aonde fiz primeira morada
E se abriram os pontos da tua cirurgia e lá voltamos a Oncologia à Praça de Espanha
Para resolver a salganhada. Felizmente mãe, essa ainda vencemos, não deu em nada…
Depois tudo já sabes. Guardo no enleio da ternura mais profunda
A primeira vez que me acompanhaste a uma prova oral.
Lembras-te de te “empoleirares” no grande Sebastião Cruz que teve consigo paciência de Jesus,
para explicar que apesar do que eu vomitava, no sentido técnico do termo,tinha só 17 anos. mas houvesse nele paciência e eu já lhe mostraria o quanto havia estudado?
Eu tive 15 valores nessa primeira oral. Desde daí foi sempre adiante como previas, como querias.Lembro-me do teu riso de fonte de água limpa no dia da bênção das fitas.
Lembro-me de te ouvir falar com orgulho de mim.
Lembro-te de te ouvir falar de mim como uma heroína, em segredo, sempre temendo que eu o notasse, porque tu não gostas que se note o teu amor...
E por isso nunca me falavas muito de amor.
Isso, por vezes, causava alguma confusão . Foi até te perceber. Tudo tem tempo, como costumas dizer. E um dia chegou o tempo de perceber.

Para me falares de amor, tu falavas-me em Maria.
Tenho tão viva essa visão que por repetidas vezes me transmitas : não compreendias como é que Maria na qualidade de mãe, fora capaz de ficar perante a dor que infligiram ao seu filho, assistir à sua morte e sobreviver sem morrer de dor. Querias assim que eu compreendesse como era intenso amar na qualidade de mãe e só assim mo sabias demonstrar.
Dizias-me também que Jesus naquele doloroso sofrimento ainda teve a preocupação de consolá-la, dizendo a João que a tomasse como mãe.

Eu não sei bem se todas as coisas são como me disseste que eram.Ainda não chegou o tempo de perceber...

Sei que te amo e que talvez te deva a palavra perdão.

Mas sabes mãe, eu sou real,de carne e osso.
Eu não tenho os super poderes de um Deus, mesmo crucificado.

Por isso perdoa-me se não consigo consolar-te pelos meus golpes ,
Porque não posso aliviar as tuas dores pela minha crucificação e não fui capaz de evitá-la.
No entanto mãe, fica-te JURADO :
ainda que não seja ao 3º dia, eu também ressuscitarei !...

devo-te isso, MÃE, eu sei ...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O CIUME


INCIDENTES DE UMA MULHER SOZINHA SEXUALMENTE APROVEITÁVEL


A vida de uma mulher só, só, não no sentido literal, mas no sentido de “mulher não regularmente acompanhada por um espécimen de classe masculina”, tem o seu quê de fantástico, de mágico e de louco !

Um fascínio : a liberdade de se determinar absolutamente em razão da própria vontade.

Há coisas tristes pelas quais uma mulher sem companheiro nunca passa :

Nunca ninguém lhe pergunta : - desculpa, querida, porque é que hoje vamos comer uma folha de alface e couve flor para o jantar quando ainda não são 19:00h e ainda ontem mesmo jantamos pizzas e lasanhas à meia noite, depois de uma sessão tentada de “ strep tease” numa imitação desfavorável a Salma Hayek posto que as echarpes não geram veneno e enrolam-se como as serpentes… e ao menos aí… menos mal ?!...

Ninguém lhe pergunta : - Bebé, tu dizes que vás tomar um banho de mar nua, mesmo que não te acompanhe e bem sabendo que são 4 horas da madrugada e eu ia por certo molhado e constipado comparecer de manhã ao serviço, ainda que muito confortado pelo embalo das ondas do mar ?!… Nem aquela : - Querida , tu não fizeste almoço para a minha mãezinha e a pobrezinha ficou junto à lareira e televisão sozinha, enquanto ensaiavas mais um número para melhor balançar o pescoço e os peitorais em nova coreografia de dança do ventre para me mostrares no sábado à noite.

E aquela : - Oh meu amor, tens que entender se derramas um pote de essência de jasmim no banho e a fragrância invade a casa toda e simultâneamente escutas em alto som “je t’aime, moi non plus”, a mãezinha preocupa-se... É que tenho que estar integro no emprego … Enfim… os exemplos multiplicam-se

Os homens a uma esposa pedem a partilha de uma mesma rotina e organização familiar e vá lá, de quando em vez a agenda lhes permite , uma ligeira loucura.

Viver só é estar livre dessas contingências,

ter amigos em regra de sexo masculino, porque as mulheres mantém distância profiláctica de uma mulher só sexualmente apetecível ,

ouvir-lhes desabafos mas não ir às suas reuniões de amigos e família para que a companheira não se sinta insegura,

é não comentar demasiado o facebook dos amigos pela mesma razão

ou ver-se pejada de comentários tipo gato mijão marcando território seu,

dando sinal à navegação que aquele homem já pertence ao rol dos “fisgados”.

É ver, notar obrigatoriamente um homem que até nem se notara,tal tanta a teimosia da mulher em se mostrar na posição de ataque e face a isso das duas uma :

a) Ou brincar, com ele, e com ela, com os dois. Isso estimulará a relação deles. Ele cresce em auto estima ao constatar o ciúme da mulher, ela cresce em atenções para “vencer a intrusa” que o “pretende”. Ambos ganham e ela, a mulher só, sorri. É bom ver pessoas felizes.

b) Outras vezes acontece o impensado : a mulher só nunca quis aquele homem, ela até é bem formada e procura não interferir em geral na relação de terceiros,

nota aquele homem pela insistente agonia com que o “defende” sem motivo, a companheira e quando nota, pode até vir a simpatizar com ele.

Depois, aí,uma de duas, ou diz :

- ah, eu não vou incomodar-me com isto, nem levar-me por provocações;

-ou não, repara que o homem é deveras interessante e parte para a luta.

Mas ninguém pense que se luta por o afecto de um homem na internet, no facebook.

Estas mulheres “temíveis” se realmente é o que querem , caiem-lhes na vida real…

Por todos estes motivos de reflexão é importante aprender a gerir a nossa insegurança.

Todos a temos.

Mas não é inteligente criar problemas aonde ainda não existe problema algum e poderá não existir nunca.

Enfim ...

Agruras de quem só , apenas de si se acompanha, mas também tem direito ao seu espaço no Mundo de Homens livres aonde sentimentos e emoções são bens incorpóreos fora do comércio jurídico entre as pessoas…




http://youtu.be/rC2UtPQmFeM

sábado, 9 de abril de 2011

A vida renova-se ...

(fotografia de Joaquim Nogueira/ Lobices)

Assim como as flores murcham

E a juventude cede à velhice,

Também os degraus da Vida,

A sabedoria e a virtude, a seu tempo,

Florescem e não duram eternamente.

A cada apelo da vida deve o coração

Estar pronto a despedir-se e a começar de novo,

Para, com coragem e sem lágrimas se

Dar a outras novas ligações.

Em todo O começo reside um encanto que nos

Protege e ajuda a viver

Serenos transpunhamos o espaço após espaço,

Não nos prendendo a nenhum elo, a um lar;

Sermos corrente ou parada não quer o espírito do mundo

Mas de degrau em degrau elevar-nos e aumentar-nos.

Apenas nos habituamos a um círculo de vida,

Íntimos, ameaça-nos o torpor;

Só aquele que está pronto a partir e parte

Se furtará à paralisia dos hábitos.

Talvez também a hora da morte

Nos lance, jovens, para novos espaços,

O apelo da Vida nunca tem fim ...

Vamos, Coração, despede-te e cura-te!


Hermann Hesse (1877-1962),

Alemanha in "O jogo das contas de vidro", trad. de Carlos Leite